https://youtu.be/QLCDymoJD_0
As névoas de Fevereiro pronunciavam a dor.
Não era de aço meu ventre; inquiri o cansaço dos meses.
Não seria março o tempo do teu nascer?
Mas a ferida do meu ser celebrava a vida na
persistência do sofrimento.
A data inscrevia-se no calendário, dia treze;
irias contrariar tal evento?
Celebrei o dia com lírios e rosas, e do olor
dispersei a dúvida.
Olhei o vértice duma estrela e recebi-te no regaço nu
na primavera antecipada.
Sabes, uma criança é o tumulto na alegria, um livro,
uma árvore, um destino de mulher.
Depois…o depois
eu quero esquecer.
Somente sei que te entreguei ao presente
numa luta desigual em que o sol
se desfazia aos pedaços na ânsia a doer
nos meus inábeis braços, um drama de ventos a florescer
nos lábios apertados, penso mesmo
que desaprendi de sorrir…
Porém, com a perícia do marinheiro a içar a vela
olhei o longe; e logo uma janela a abrir,
o apelo de asas na tempestade,
uma urgência maior a acolher-te no coração
de mãe; no sentir da alegria
invadindo nuvens, negando fantasmas…
Nem toda a água lavará a incerteza, mas cresceste;
nunca acreditaste no agoiro da coruja,
sempre ergueste teu olhar às asas das aves,
ao driblar duma bola no verde…
Tanta chuva desabou nos invernos, tanto sol
se despenhou das arribas no teu trajecto …
Hoje, teus olhos são os olhos da tua filha,
o seu sorriso é o reflexo do teu;
hoje, ao teu lado outra mulher detém o teu afecto,
a doçura dos seus beijos a tocar o céu.
Hoje, tomo no meu regaço o fruto da semente,
colho na palma da mão
a doçura da tua essência;
Venha música, manjares, vinho,
celebre-se a raiz enternecida da vida.
Tu foste nascido para a ternura das mãos estendidas; sê feliz
porque eu sou feliz. Não viveremos sempre, mas em ti,
uma tela colorida de lágrimas e sorrisos e suspiros
escreverá a história desta memória.…
nestes versos, nesta poesia.
Mas, essencialmente, meu filho, é preciso viver
o dia que passa
e não ficar mal na fotografia.
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