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Terça-feira, 28 de Setembro de 2010

Shiu, a mãezinha está a dormir…

Shiu, a mãezinha está a dormir…

impunha à pequenada que voava pela casa

como andorinhas em redor dos seus beirais.

Shiu, a mãezinha está a dormir…

e retinha num inábil abraço  a pequenita,  

que  jamais se calava, tal avezita solitária em nocturno ninho.

 

Ainda uma adolescente,

o meu ventre não satisfazia a fome e a sede da existência;

mas uma luz  resplendia quando a partitura do teu sorriso

imitava um musical de amor;

no orvalho da alegria eu buscava a música do teu ser

porque tu és música como ela eterna, e essência de vida.

 

Shiu, a mãezinha está a dormir…

ciciava com autoridade, numa tirania de génio,

usando a batuta da idade.            

Eu adolescente, o meu regaço tão verde, 

a suplicar na lágrima da voz, os ritmos de fonema

em requien de Mozart, talvez já numa metáfora de poema,

 

Depois desse martírio de silêncio,

o sol vibrava na tarde em acordes de Verdi:

festim de rimas e gorjeios de ave celebrando a tua presença.

Então, adejava pela escada, erguia a asa

e numa liberdade de rua reencontrava a brincadeira

 até o meu coração esquecer e deixar de doer.

 

Tantos outros depois, fechei definitiva a porta solteira da casa.

Deixei à solta o bando de pardais

que não cabiam mais nas minhas seduzidas mãos

por outras melodias; mas a música não desaparece assim,

até que te reencontrei, serena,

numa demência matutina, a entoar cânticos da infância,  

surda aos sons desafinados,

de novo criança, rasgando o presente em pedaços.  

  

Teu pai era como um sol a varrer a praia,

dizias numa litania de persistência, não tinha culpa,

as mulheres como sereias traiçoeiras roubavam-me o seu o amor….

E a fímbria de meus dedos a deslizar na neve dos teus cabelos

com beijos musicais a sussurrar ternuras;

agora amava-te sem medo

e tu repetias o segredo preso na secura da vida:

gosto tanto de ti!

 

Shiu, a mãezinha está a dormir…

murmuro ao agitar do mar, ao chilrar das aves, ao grasnar dos patos

ao cio felino dos gatos que enleados na ventania

acordam a minha janela onde só permito o tamborilar da chuva

entoando uma canção de ninar. Um dia,

talvez possas acordar para a minha fantasia; entretanto

eu tomo conta de ti, sem coragem de me despedir:

shiu, a mezinha está a dormir…

Shiu…………………..

 

 

 Bernardete Costa

 

.

publicado por Bernardete Costa às 17:27

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6 comentários:
De Margarida Ruela a 2 de Outubro de 2010 às 02:13
Não entendo como, o comentário anterior apareceu com certos caracteres que não deveriam ali estar, contudo o que conta é a intenção, como se costuma dizer. Mais uma vez, Parabéns.
De Bernardete Costa a 7 de Outubro de 2010 às 11:12
Obrigada, querida, pelas tuas palavras de carinho. Sou imensamente feliz por saber que a memória que te deixei te acompanha pela vida e te ajuda, ajudou, a crescer.
Que mais pode esperar uma professora?
Beijos, muitos e saudades, imensas.
Bernardete Costa

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