https://youtu.be/QLCDymoJD_0
Chamo-te Gaia, Mãe Terra
sopro de vida, raiz fecunda, árvore
de tua amada Tétis,
tronco fruto e pão, matriz de chão a pulsar;
em ti o suor nos sulcos do arado, no mosto da uva,
no cristal fresco da levada. És terra,
ergueste da rudeza da pedra, do verde doce do vale
do oiro das colinas e depositas o pólen
na avidez dos insectos. És rio,
fonte em estio, ribeiro em crescendo,
água subterrânea em seus veios
a dedilhar a estranha música do caos,
tumulto de peixe a indagar foz
na onda dos seios.
Trazes contigo o cheiro do colmo,
o divino ofício das colheitas, a verdade da infância
na gruta imperecível de amoras negras;
em ti gritos silvestres de céu de urze,
sangue de papoilas, sol de malmequeres…
fragrâncias cidreira, tomilho, coentros…
tua pele na pele do poema como
deusas gregas no voo alado dos ventos.
Toma-me em teus braços Mãe Terra, sou Tétis
tua filha amada, e neste encantamento,
como Caeiro lavrador de searas e pastor de rebanhos,
deposita em minhas mãos
os signos do universo,
e num só verso possam renascer fluidos de vida.
Mergulhemos, por fim, na paisagem
dos retornos e confiemos ao sorriso o perdão
como incenso no declive da viagem.
Bernardete Costa