https://youtu.be/QLCDymoJD_0
(O EXERCÍCIO DA DEMOCRACIA É COMUM A TODOS OA CIDADÃOS...)
A bastonada veio do ar, seguiu minha pessoa,
era impossível uma bastonada vir assim,
na minha direcção, sem ser pedida. E mesmo que fosse pedida,
como adivinhar uma bastonada e que mão a toma,
qual o destino a seguir, que ser espancar…
Não, a bastonada não era para mim,
nunca chamei bastonadas, mesmo encontrando-as pelo caminho
eu desvio-me com algum respeito, bastonada
tem direito a respeito, quem sabe a democracia se faça assim,
de bastão erguido, de arma empunhada…
Sem dúvida alguma, tudo tem direito a respeito,
eu vejo as coisas assim, mesmo penugem de passarinho
eu guardo no meu bolso, eu sopro de mansinho
e levo comigo para casa; e fico horas a indagar a origem,
que ave, que asa, que sonho ela transporta…
Realmente bastonada tem direito a respeito,
mas esta bastonada tinha pensamento leviano por certo,
se não foi sua e desejosa a vontade,
porque se vingou na minha cabeça, porque originou
aquele vómito de sangue…Insensível e crua
nada a desviou do seu trajeto.
Não, a culpa seguiu seu caminho, uma mão a segurou,
uma mão desentendida se limitou a erguer bastão,
a vergastar minhas costas, sem ao menos perguntar:
foi você quem atirou a primeira pedra?
Sei da minha clausura depois, de não responder
a perguntas para as quais respostas não tinha.
E mais bastonadas levei, meu corpo trapo na confusão das pedradas,
eu a ficar domada, sem forças para responder
a perguntas sem resposta, vexada pelo país que me escolheu o nascer.
A única resposta que tinha não foi aceite: ia a passar,
a dobrar a esquina, a escutar a voz do passarinho…
De nada valeu, as bastonadas são surdas com certeza, apenas escutei
risos escaninhos dum passado a vir à tona do presente.
De mim se levantou um pouquinho de orgulho… e gritei:
Que merda de democracia é esta!!!
Bernardete Costa